Samstag, Juli 16, 2011

Para os que não querem saber...

- Ah, tá - disse o velho. - Vou lhe dar uma oração. Tem um lápis aí?
- Tenho - disse Arthur.
- É assim. Vamos lá: "Proteja-me de ficar sabendo daquilo que não preciso saber. Proteja-me até mesmo de ficar sabendo que existem coisas que não sei. Proteja-me de ficar sabendo que decidi não saber das coisas que decici não saber. Amém." É isso. É o mesmo que você fica rezando em silêncio dentro de sua cabeça., então pode falar em voz alta que não muda nada.
- Humm - disse Arthur. - Bem, obrigado...
- Tem uma outra oração que acompanha essa e é muito importante - continuou o velho. - É melhor anotar também.
- Certo.
- É assim: "Senhor, Senhor, Senhor..." É melhor acrescentar esta parte, por via das dúvidas. Prevenção nunca é demais: "Senhor, Senhor, Senhor. Proteja-me das consequências da oração anterior. Amém."
ADAMS, Douglas. In: Praticamente Inofensiva.

Sonntag, Mai 29, 2011

Dumbledore

"Era importante, dissera Dumbledore, lutar, e recomeçar a lutar, e continuar a lutar, porque somente assim o mal poderia ser acuado, embora jamais erradicado..."
ROWLING, J. K. In: Harry Potter e o enigma do Prícipe

Samstag, Mai 28, 2011

Sincronias do Indivíduo ou a chuva nº 17

"Não que fosse naturalmente tão mal-humorado, ou pelo menos esperava que não. Era só aquela chuva que o deprimia, sempre a chuva.

E estava chovendo naquela hora, para variar um pouco.

Era um tipo específico de chuva, que ele detestava especificamente, sobretudo quando estava dirigindo. Tinha um número para ela. Era a chuva tipo 17.

Havia lido em algum lugar que os esquimós têm mais de duzentas palavras diferentes para neve, sem as quais as suas conversas possivelmente seriam bastante monótonas. Eles distinguiam então entre neve fina e neve grossa, neve leve e neve pesada, neve derretida, neve quebradiça, neve que vem acompanhada de uma rajada de vento, neve que é levada pelo vento, neve que é trazida pela sola das botas do seu vizinho e arruínam (sic) o chão limpinho do seu iglu, as neves do inverno, as neves da primavera, as neves da sua infância que eram tão melhores do que essas neves modernas, neve fina, neve aerada, neve de colina, neve de vale, neve que cai pela manhã, neve que cai à noite, neve que cai de repente bem na hora em que você ia sair para pescar e neve na qual os seus huskies siberianos mijam em cima, apesar de todos os seus esforços para triná-los.

Rob McKenna tinha duzentos e trinta e um tipos diferentes de chuva anotados no seu caderninho, e não gostava de nenhum deles.
[...]
Desde que deixara a Dinamarca na véspera, passara pelos tipos 33 (chuvisco leve e pinicante que deixava as estrada escorregadias), 39 (gotas pesadas), 47 a 51 (de garoa vertical leve passando por garoa refrescante inclinada indo de leve a moderada), 87 e 88 (duas variedades sutilmente distintas de aguaceiro vertical torrencial), 100 (ventania uivante pós-aguaceiro, gelada), todos os tipos de tempestades marítimas entre 192 e 213 ao mesmo tempo, 123, 124, 126, 127 (pancadas frias amenas e intermediárias e tamborilar regular e sincopado), 11 (gotículas frescas) e agora a de que menos gostava entre todas, a 17."
DOUGLAS, Adams. In: Até mais, e obrigado pelos peixes (Volume quatro da série O mochileiro das Galáxias)

Samstag, Mai 14, 2011

Horizontes

Entre as indistintas luzes do alvorecer, comprimi-se o horizonte do meu olhar. Eximi-se a vida de suas responsabilidades para com o meu ser. Pouco sabe-se do som das palavras, do sentido afora à dor. Pouco sabe-se do sentido...
Conforme o tempo passa, a poesia foge das horas, deixando para trás apenas rimas pobres como herança de um paradigma impraticável. Pouco sabe-se da Poesia...

Samstag, April 02, 2011

Para os que não entendem...

Não acredito ser errada a solidão, mas acostumei-me com a ideia do ser incompreendido. Não que não seja incômodo quando todos facilmente notam que você não faz parte do todo, de nenhum todo. Não que as classificações não sejam doloridas, mas é um preço a se pagar para quem escolheu viver em sua própria ilha.

Mas nada me dói tanto como as vezes em que ouço você dizer que sou bruta. Bruta. Logo você, que deveria enxergar o cerne.

Bruto: malformado, mal-acabado, violento, imoderado, arbitrário, ríspido, cruel, bárbaro, insensível, desagradável e repugnante.

Talvez você não saiba, mas palavras não voltam atrás. Por vários momentos acreditei que você enxergasse a dor, a confusão, a fragidade. Mas para você não há nada ali, a não ser, é claro, a brutalidade.
"Variações sérias em forma de soneto"
Vejo mares tranquilos, que repousam,
Atrás dos olhos das meninas sérias.
Alto e longe elas olham, mas não ousam
Olhar a quem as olha, e ficam sérias.
Nos recantos dos lábios se lhes pousam
Uns anjos invisíveis. Mas tão sérias
São, alto e longe, que nem eles ousam
Dar um sorriso àquelas bocas sérias.
Em que pensais, meninas, se repousam
Os meus olhos nos vossos? Eles ousam
Entrar paragens tristes de tão sérias!
Mas poderei dizer-vos que eles ousam?
Ou vão, por injunções muito mais sérias,
Lustrar pecados que jamais repousam?
(BANDEIRA, Manuel )

Para os que estão prontos para a Verdade...

"Torceu e rezou para que não houvesse vida após a morte. Então percebeu que havia uma contradição nisso e simplesmente torceu para que não houvesse vida após a morte."

ADAMS, Douglas. In: A vida, o universo e tudo mais (terceiro livro da série d'O mochileiro das galáxias)

Donnerstag, März 24, 2011

Sobre o fim de um período mental

A Cidade Universitária é realmente bela para quem sabe apreciá-la sob o ângulo correto. Quem entra pelo Portão 1 atravessa uma alameda na qual o céu é visto aos pedaços, devido ao "teto de árvores". Quem convive com ela por um certo tempo acaba percebendo que nela até o clima é diferenciado (mais ameno, fresco e prazeroso) e que a amplitude da visão e do espaço causa rebuliços físicos e mentais, principalmente no início (embora seja, de uma maneira geral, uma sensação que não se apaga).
Quando você dirige por suas avenidas, que na verdade são ruas muito largas com canteiros centrais com árvores enormes, sente a liberdade contida no "à parte", pois afinal é disso que se trata, do à parte espacial e do à parte mental, que a tornam a "terra da fantasia", como costumava dizer um professor de Língua Latina cujo nome não me lembro mais.
É como se você estivesse em uma saga tolkieniana, a caminho de Lothlórien, onde Galadriel leria sua mente e faria seus pensamentos transcenderem sua consciência, e ganharem consistência na realidade. Uma idéia solta na realidade.
É o que de mais nobre se aprende por aquelas terras: o valor da liberdade de um pensamento, e que a liberdade parece muito pequena quando se descobre uma liberdade maior, mais bruta e impiedosa, que não aceita ser tolhida e hostilizada.
Enquanto eu estive por lá, por um tempo achei o meu lugar, e por outro o perdi, mas a memória é estranha e santifica o que já se foi.
Só sei que é difícil dizer adeus em meio a tantas incertezas:
"Não há ninguém que saiba agora
Se em sombra ou luz está;
Perdeu-se Nimrodel outrora,
Nos montes vagará"
(TOLKIEN, J. R. R. In: O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel)

PS: Sabem como é ter que ficar procurando o carro em um estacionamento lotado? A solução: estacionem assim, que nem meu vermelhinho...

Dienstag, März 22, 2011

Um vão entre duas coisas possíveis

"Queres escalar a altura livre, a tua alma está sedenta de estrelas, mas também os teus maus instintos têm sede de liberdade."
NITZSCHE, Friedrich. In: Assim falou Zaratustra.

Donnerstag, Februar 04, 2010

Memórias de mim

"Meu segredo - a explicação de mim - jazia lá. Levei-me por demais a sério, é claro. O que isso importa para alguém como eu, então ou agora? Mas todo homem é importante para si mesmo em um ou outro momento; meu problema tinha sido o de reduzir a importância, a espalhá-la numa camada tão delgada quanto pude por mais de meio século. Graças à minha política de sepultamento, eu tinha entrado em acordo com a vida, tinha feito um trabalhoso - trabalhoso era a palavra - arranjo com ela, sob a única condição de que não deveria haver exumação alguma. Era verdade o que eu às vezes dissera a mim mesmo, que minhas melhores energias tinham sido empregadas no ofício de agente funerário? Se era, o que isso importava? Teria eu me saído melhor, com o conhecimento que tinha agora? Duvido; conhecimento pode significar poder, mas não elasticidade, desembaraço ou adaptabilidade à vida, menos ainda o é a instintiva condescendência pela natureza humana;aquelas eram qualidades que em 1900 eu possuía em medida muito maior do que as possuo em 1952. Se a mansão Brandham tivesse sido o colégio Southdown Hill eu deveria ter sabido como lidar com isso. Eu entendia meus colegas, para mim eles não eram maiores que a vida. Eu não entendia o mundo da mansão Brandham; as pessoas lá eram muito maiores que a vida [...]
Se meu eu de doze anos, de quem eu gostava bastante, pensando nele, viesse me repreender: "Por que você cresceu feito um cão palerma, quando eu lhe dei um começo tão bom? Por que passou seu tempo em bibliotecas empoeiradas, catalogando os livros dos noutros em vez de escrever os seus próprios? [...] Eu teria uma resposta pronta [...]: "Esta Criatura de cinzas é o que você me tornou"."
Do livro " O mensageiro" ("The go-between"), de L. P. Hartley

Sonntag, Januar 31, 2010

Entre o Desespero e a Solidão

Às vezes me dói o fato de não te ter e de saber que sua distância não pode preencher os vãos da minha existência. Aperta-me o ser quando olho para o vazio e não consigo enxergar a imensidão do seu olhar maduro, a suavidade de sua pele ou a fluidez de seus movimentos.
Todos os dias me encontro só, só à hora das estrelas e aos cânticos de Morfeu, e de você tenho apenas a sensação do peso sobre os quadris e da pressão das mãos imaginárias...
Quanto ao tempo que não tenho, quanto às horas que não vivo, quanto às paredes pesadas de meu quarto... tudo prescinde à luz azul que trouxeste ao meu olhar castanho, mas a dor de meus olhos baços torna-se a cada dia mais insuperável, tão insuportável quanto a subida de minha escada vazia.

Freitag, Januar 22, 2010

Contantos

Contanto que vez ou outra você me olhe com ternura ou que afague sem motivos minha face assustada e cansada; contanto que você finja não enxergar meus grandes erros e não notar meus momentos de vergonha; contato que você você aceite a timidez dos meus olhares e a violência de minhas carícias; contanto que seu desprezo seja mentira e que seus outros amores sejam passado...
Contanto que você saiba que meu jeito acanhado é meu modo natural de ser, que meu corpo guarda tantas imperfeições e minha mente tantos vícios, que a arrogância é medo, que a timidez é desconforto e que a demência é constante...
Contanto que você não se afaste a primeira vez que eu lhe arranhar a face, e que perdoe toda vez que eu lhe expulsar do quarto, e que ouça quando eu estiver eufórica e que cale quando eu estiver calada e alheia...
Contanto que você viva segundo as regras do meu mundo, talvez a gente chegue a um acordo, e viva em paz. Quem sabe um dia a gente possa até amar...

Sonntag, September 13, 2009

A arte dos fracos

  • 109 dias para terminar o ano
Escrever é um vício de pessoas que não sabem se conter.
É como (e de novo é o Pessoa) pensar a realidade em vez de sentí-la, em vez de vivê-la de fato. É como olhar ao redor em um dia pardo, quando as nuvens se monstram absurdamente brancas e o céu contrariamente negro, quando tudo parece tirado de fotos amareladas, em um tempo tão forte e inexpressivo, e não se aguentar até que se transfira em palavras a situação inenarrável, transformando tudo, salpicando adjetivos em seqüência e mostrando o que é de uma forma que lhe é estranha.
É como quando se vê que se pode gostar de alguém, mas se sente que não basta só gostar, pois é preciso tapar cada vão da realidade, os espaços entre os olhares e o medo contido na respiração contida.
É como ter todos a volta e saber que só o que lhe cabe bem é a solidão, o tamanho dos próprios lapsos, o desespero ante os próprios braços, e a cor baça que preenche a lacuna dos dias.
Escrever é como o desespero de querer sentir as lagrimas quentes cortando a face, tingindo o sono, lavando a dor. É um vício para pessoas fracas.
É detestável ser fraco, mas os fracos sempre têm recaídas.
Fazer o quê?

Mittwoch, Oktober 08, 2008

Lá e de volta outra (terceira) vez?

Está frio, tempo propício para contemplações saudosistas e melancólicas que nos fazem cometer bobagens, como voltar a falar o que não deveria. Na verdade nem vou voltar, é só para eu me ler na tela, o que sempre me deixa mais feliz. Sobre o tempo que passou sem ser mencionado: As horas são muito inconvenientes, os olhos estão sempre um pouco inchados de sono, as idéias sempre confusas. A mente sempre adormecida. Ai! Eu de novo e "as-coisas-que-não-devem-ser-ditas". Paciência. De resto, a espectativa de que as 61 semanas que faltam para eu me formar se esgotem logo e que o frio transgressor da capital não estrague meu final de semana no litoral. E é só.

Freitag, Dezember 14, 2007

Recesso mental

Faz umas três semanas desde que meu cérebro parou. Ele pede férias, e eu concordo.

Donnerstag, Dezember 13, 2007

Entretanto

De repente a gente se acostuma com o vento frio que sopra de alguma direção desconhecida. Se acostuma também com as feridas nas mãos, que nunca se curam, e com os olhos baixos, um pouco amargos, que não permitem divisar horizonte algum.Talvez a gente supere a questão da assimetria, do lado direito ser mais rústico que o esquerdo. Pode ser que num dia vazio a gente consiga caminhar pelas ruas, com uma música antiga na cabeça, com passos largos e lentos nos pés e a indiferença pelo mundo disfarçada atrás dos óculos escuros. Quem sabe a gente pára de esperar ligações, companhia ou compaixão, supere as fobias crescentes e vença os medos infantis. Na verdade, um dia a gente cria coragem para pôr a cara no mundo, mas isso do nosso jeito, contido, sem expansões ou excessos, que afinal não gostamos nem dos excessos nem da noite. Faremos tudo isso na segurança das manhãs claras, nos despedindo com um sorriso largo e uma mala nas costas. Caminharemos até o fim da rua e dobraremos a esquina, rumo a um lugar em que não haja ninguém para perguntar, onde não exista quem censure nossa timidez ou exija os motivos que não temos.

Freitag, Dezember 07, 2007

Horas duráveis

Um leve tremor lhe sobe pelas costas frias, e sobe até tomar os dois olhos negros como lugar de repouso. O olhar, comandado pelo medo autoritário, vai por caminhos oblíquos, ultrapassando os vãos negros dos mistérios indecifráveis. Esse olhar assim cada vez mais marcado pela tristeza linear e amarga, só pode pertencer a alguém demasiadamente apegado à própria dor e que seja, de uma certa forma inconfessável, orgulhoso de sua melancolia. São olhos que se fecham ante a grandeza que oprime todo o ser, ante o cansaço que assola todo o corpo, ante o medo que consome toda a vida. As mãos, igualmente trêmulas, repousam rápida e nervosamente sobre os olhos, como se assim fosse possível impedir a torrente estúpida de lágrimas aflitas. O peito inócuo anseia por dar as respostas vazias que acolhe, mas algo impede que a voz tímida e áspera saia, ferindo confusamente o ar, contando o que é melhor ficar sem ser dito. Talvez seja medo, talvez orgulho. Talvez seja o gosto torturante que vê na tristeza o jeito mais sublime de repouso do sujeito. De qualquer forma, nada explica a desavença que aparta o ser do próprio eu.