Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2006

A outra

Nina está na fase mais complicada da infância canina: a fase em que os cães descobrem para que servem os dentes. Tudo se transformou para ela em um alvo em potencial: quando estamos andando, nossos calcanhares, quando estamos parados, os pés como um todo, quando estamos descalços, nossos chinelos, e quando não estamos por perto (ou quando ela se cansou um pouco de nossos pés) ela ataca absolutamente tudo que esteja ao seu alcance: revistas , jornais, sacolas, panos, chinelos, roupas, almofadas, minhas meias, as roupas do varau, as almofadas do sofá...(a lista realmente não tem fim) Como prezamos muito nossos sapatos e o cesto de roupas sujas, tivemos que impedí-la de subir para o andar dos quartos e do banheiro: construímos uma pequena barreira na escada, que aos poucos se transformou numa verdadeira muralha - primeiro foi um tronco decorativo, porém ela conseguiu transpô-lo. Depois foram um, dois, três, os quatro banquinhos que temos em casa e mais uma caixa de papelão. Todos fo

Calorias noturnas

Esta noite engordei 3 kg enquanto dormia (e só da cintura para baixo, como sempre). Arrumando-me para ir para a faculdade descobri que nenhuma calça queria entrar. Só depois de 1/2 hora de tentativas foi que consegui fazer com que uma superasse as coxas. Ainda precisei de mais 1/2 hora para subir o zíper e abotoá-la. No caminho para a USP, literalmente entalada dentro da calça, para tentar amenizar o impacto emocional que este episódio me causou, comi uma barra de chocolate branco, um pacote de amendoim açucarado e um outro de balas de goma. Ao contrário do que se pode imaginar isso não vai piorar o meu estado de semi-obesidade (rs) , afinal o ato de engordar decorre não da comida em si, mas sim de uma tensão originada de uma relação subjectal polêmica, entre o eu psicológico e o eu físico , sendo um anti-sujeito do outro. Tudo muito semiótico...

Malditas idéias fixas

O contato mantém uma proximidade distante. Os olhares, tímidos e insistentes, fogem e se encontram, receosos do que pode ser desvendado. Os sorrisos cúmplices denotam a consciência de algo que ainda não existe. * Daí surge uma idéia trêmula que pensa transformar-se em resolução...

Cifras temporais

O céu ainda mantém parte de sua escuridão noturna quando saio de casa às sextas-feiras. Ébria de sono (e somente de sono) vou cambaleando duvidosa até o ponto de ônibus, pois em tal momento não consigo me firmar física e cronologicamente - resido num anestesiado tempo psicológico. Durante o trajeto, travo um diálogo contínuo e desinteressante comigo mesma, reclamendo do trânsito que não colabora e dos desconhecidos que esbarram em minha pequena figura e não se voltam para pedir desculpas. Durante a aula enfrento uma árdua batalha com minha mente que quer se distanciar e com meus olhos, que tentam se mantêr cerrados. Mas insisto, digo "é aula de semiótica..." O retorno (depois da torta de frango da cantina) é sempre torturante: o sol, convicto, dificulta a locomoção e torna as distâncias ainda maiores. Os homens são mais afoitos, as mulheres mais arrogantes e as crianças insuportáveis. Quando finalmente vejo minha casa despontar no horizonte o corpo se comove e desaba. Mas

Esses corriqueiros olhos castanhos

O dia tornou-se cinza, mas já não sei mesmo se a falta de cor está em meus olhos baços ou no mundo. As folhas da árvore que vejo através de minha janela têm uma tonalidade marrom que desestimula uma observação mais demorada e os fios de energia, pretos como sempre, continuam parados no mesmo lugar. Como disse Baudelaire, "perdeu a primavera seu cheiro de flor".

O retorno de Odisseu

M. voltou para nos agraciar com seus olhares distantes e suas citações em grego - são frases inteiras decalcadas do original de algum filósofo dos anais do pensamento clássico, e tudo de memória, nos desenhos abstratos que constituem o alfabeto grego. Sou fã do Q.I de M. Quando eu crescer quero ter 1/3 da inteligência dele, o que já será algo absurdo. Acabaram-se as aulas de Elementos de Lingüística - resta apenas 1 semana de conturbações semânticas concomitantes antes do fatídico dia pragmático, no qual o uso da linguagem ou vai salvar a pátria ou vai ferrar tudo. Fica uma saldade catafórica de MFL. Além disso, ainda tenho que ler a maldita bíblia azul (também conhecida como "Gramática do Português oral culto falado no Brasil"), fazer a monografia do Z., estudar para a prova de Semiótica... Com tudo isso meu rim direito, juntamente com a enorme pedra que o habita, começa a latejar, mas como o desespero é um estado semiótico (assim como a dor e tudo o mais) procuro ameniza

O dia com José Luiz Fiorin

Quando eu era pequena achava que o domingo era um dia encantado, de tranqüilidade morna, paz descompromissada e fome suave de fim de tarde. Eu, até então filha única, dividia minhas tardes dominicais entre assistir ao "Rei leão" e fazer barulho para acordar meus pais que insistiam no cochilo pós-almoço. Hoje (com o perdão da obviedade) os tempos são outros. O peso da idade (infinitos 18 anos e quase 3 meses) apagou o brilho dourado do sétimo dia da semana: restou a preguiça e o pijama, que fica no corpo o dia inteiro. Ontem (12/11/2006) comprovou-se, mais uma vez, a quebra da antes sagrada tradição do "não-fazer" do domingo (conhecido também como dia do ócio): passei o dia com o ilustríssimo Prof. Dr. Salve, Salve José Luiz Fiorin (por intermédio de Introdução à Lingüística I e II) estudando a tal da Pragmática que, temo, manchará a minha tão graciosa média em lingüística. E antes que eu atirasse os livros pela janela, e depois me atirasse atrás deles, arrepend