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Mostrando postagens de janeiro, 2007

A vizinha maldita II: notícias do submundo

Hoje as obras da vizinha começaram às 7h17. Às 7h30 eu estava apertando a campainha da casa dela. Ao contrário do que escrevi no post passado, não fui de relógio em punho, nem a xinguei de “velha louca”. Mesmo assim, fiz questão de ir com meus cabelos desgrenhados e com meus olhos inchados, para que ela percebesse que aquilo realmente estava me incomodando e me enlouquecendo. Disse-lhe, a princípio muito educadamente, que compreendia que ela estivesse reformando a casa, porém que não havia condições de ela começar a quebrar tudo tão cedo. Disse-lhe que ontem o pedreiro começou a quebrar às 7h e parou por volta das 10h, ou seja, que se fosse usado um pouco de bom senso, ele poderia muito bem começar um pouco mais tarde, pelo menos às 8h, sem prejuízo de ninguém. Ela me respondeu que o barulho também a incomodava mas que ela não poderia fazer nada porque: - O horário que o “moço” começa a trabalhar é às 7h; - Às 7h já se pode fazer barulho (às 8h é em condomínio); - E o que eu posso faz

A vizinha maldita

São7h da manhã. Ainda (é claro) estou dormindo, porém um retumbar inicialmente distante vai tomando minha mente adormecida. Pareço estar nas profundezas de Moria, com tambores ritmados comandando um exército de criaturas do submundo. Mas não são orcs nem dragões que vêm macular meu frágil sono perturbado por noites e mais noites de insônia e sim a minha mais nova vizinha: uma velha louca que contratou um pedreiro para quebrar a escada da frente às já mencionadas 7h da manhã. Hoje foi só o primeiro dia da reforma: segundo minha mãe, ela quer destruir um quarto, construir uma laje e arrumar a garagem. Por que diacho esta criatura infeliz não comprou uma casa do jeito que queria? * São 8h05. Estou quase batendo minha cabeça na parede para acompanhar o tum-tum do desperto pedreiro, bem ao lado da minha janela. Escuto meu pai no portão; está voltando da padaria. Desço para tomar café da manhã com ele e despejar nos seus ouvidos todo o ódio que estou sentindo da velha. * São 8h20.

Mesquinharias

A "Retórica da Poesia" deixou seqüelas. Não sei se o livro é bom: pois é, eu li o livro, mas não sei se é bom. Creio que seja interessante para pessoas de Q.I. mais elevado (quero dizer, geniais mesmo), que entendam muito de retórica, semiótica e teoria literária (um misto de Martinho, com Pietroforte e Zular. Coisa pouca, não). * "Fernando Pessoa ou o Poetodrama" (José Augusto Seabra) é bom - não é muito profundo, mas faz um geral bem interessante sobre Fernando Pessoa "ele mesmo" e seus três principais heterônimos, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e o 'mestre' Alberto Caeiro. * Ontem, domingo, fui até a feira da Liberdade, um pesseio de última hora, a convite de R. Foi muito legal: vimos muitos japoneses (dahn), comemos uma comida japonesa cujo nome não me lembro, fuçamos um sebo e compramos algumas besteirinhas (poucas, uma eu, outra ela, porque estamos pobres).

Histeria

Ontem acordei bem cedo e fui até a USP, tudo por conta de um desespero. Eu poderia muito bem ter acordado às 10h, assistido às “Aventuras de Mickey e Donald” e “Witch”, tomado um banho bem demorado, arrumado meu quarto, almoçado, para só então tomar coragem para enfrentar 2h de viagem. Mas não fiz nada disso: acordei cedo e fui. Quando liguei no Centro de línguas, há cerca de uma semana, falei com uma moça muito educada que me disse: “Olha, a matrícula começa às 9h30. São só 30 vagas e nós distribuímos senha. Eu te aconselho a chegar cedo.” Como se alguém, além de mim, fosse querer fazer um curso chamado (simbolicamente) “Leitura de textos em alemão para Filosofia e Ciências Sociais – Nível I”. * Assinei minha matrícula por volta das 11h; fui a sexta pessoa a fazê-lo. Pelo menos eu aproveitei para comer minha torta de frango (durante o período de aulas ela acabava tão rápido que quando eu chegava na cantina só tinha de palmito – e eu detesto palmito).

Mundos Possíveis II

Estávamos, L. – meu irmão – e eu, sentados dentro de uma casa de árvore quando recebi uma mensagem, não sei de onde nem de quem. Dentro de um envelope pequeno e rosado havia uma moeda de prata com os seguintes dizeres cunhados: “não deixe que o amanhã chegue”. Apavorada, pensando na desgraça que aconteceria caso uma nova aurora tomasse os céus, desci apressada do alto da árvore puxando com histeria meu jovem irmão, que carregava numa das mãos uma sacolinha de supermercado. Demos com um amplo saguão a céu aberto, nos fundos do que parecia ser um castelo – um castelo sombrio, velho e abandonado. Passamos por um dos arcos e entramos num grande salão mal iluminado. Eu, sempre insistindo para que L. andasse mais rápido e não fizesse barulho, corria sem parar, segurando-o firme pela mão livre, como se temesse que ele ficasse para trás e eu não pudesse voltar. * Enfim chegamos, não sei como, a um grande banheiro de piso branco e com várias repartições. Das pias jorrava uma quantidade enor

Subversão

Toda vez (e são muitas vezes) que P., meu professor de alemão, diz que “a oralidade subverte as regras”, sinto minhas mãos ficarem levemente aquecidas e mais pressinto do que sei que um sorriso tomou-me o rosto. Sei que P. pensa que isso é sinal de concordância, como se eu dissesse sem dizer: “esses falantes nativos inconseqüentes que desconsideram séculos, para não dizer milênios, de desenvolvimento gramatical desde a gênese do sistema verbal e saem por aí falando do jeito que bem entendem, ignorando a existência de todos os manuais de gramática e etc. etc. etc.” Acontece que não é bem assim... Justo eu, purista que sou (ou tento ser) penso em citar-lhe Saussure, lingüista que considerava a língua como uma “instituição social”, além de toda aquela baboseira que se aprende em IELP (muito mais do que em Lingüística) como o fato de que a língua, como instrumento de comunicação, é de natureza dinâmica e que é, por isso, impossível conter sua evolução. Acho que é esse curso de Letras que

No reino do sono

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Os ursos-polares são mamíferos carnívoros que pertencem à família dos ursídeos; são animais muito resistentes, que além de serem exímios nadadores, podem percorrer até 80 km sem descansar. Eles são extremamente solitários, tanto que os únicos laços familiares que formam são os entre mães e filhos. Durante o inverno o urso polar entra em um estado de dormência (hibernação), no qual passa a subsistir de reservas de gordura corporal, sem que a temperatura de seu corpo chegue a cair. Todos os dias, quando acordo por volta de 8h30 da manhã, e fico curtindo meu sono pausado e extremamente cansativo, penso como seria bom hibernar por longos períodos, sem acordar no meio da noite com fome ou vontade de fazer xixi, sem contar o fato de não ter nenhum tipo de obrigações para com os outros. É verdade que deve ser um pouco triste ser tão solitário assim, porém não há nada mais sublime do que um sono ininterrupto, não recortado e perturbado por sonhos ou procupações com as provas trimestrais. Como

Por uma anti-revolução

Nunca tive ímpetos revolucionários. Ou melhor, tê-los, já os tive, porém eles sempre morreram no momento exato em que deveriam vir à tona, permanecendo no mundo de faz-de-conta da Srta. Smilla. Sabe-se lá como é, o espírito romântico tem suas crises, muda o alvo, muda os ares, os rostos ao redor, todavia nunca deixa de ser romântico, de carregar uma dor inexplicável e amarga na alma. Não é um romantismo como se entende “romantismo”: é uma maneira frustrada de ver que as coisas não são como em seu “mundo possível”, e que mesmo assim é-se obrigado a bater as caras no tal do “mundo real”. Sou tão “conservadora”, se é que é este o item lexical mais apropriado, que lamento até o fato das coisas não serem como deveriam ser. Minhas lástimas mais intensas sempre recaem sobre meu próprio ser. Hoje, histérica, com o coração aos saltos, com lágrimas tímidas e incontroláveis inundando os olhos e com a voz falha pela indignação, ouvi minha mão dizer em tom irritado que não sou feliz porque não que

Comoções

A chuva se empenhou em estragar o fim de semana, mas não conseguiu me impedir, com sua desagradável umidade, de usar da minha pequena parcela de felicidade e da minha incomensurável comoção romântica. Fui, com a Rita, ao MASP, que estava incrivelmente vazio. De novo por lá, há uma exposição de fotografia e outra de “artefatos” japoneses. E só. Passamos mais tempo falando com o ascensorista do que passeando pelo museu. * Fomos também ao Shopping Frei Caneca: o único lugar do mundo que tem mais gay por m2 que o prédio da Letras – cada vez que vou lá fico mais convencida disso. É um lugar onde todos os casais (sejam eles gays ou não) se mostram muito felizes, passeando com seus respectivos filhos caninos. Já tenho minha filha canina (a graciosa e saltitante Nina) só me falta um “par pra dividir”, como diz a música dos Los Hermanos, principalmente porque sei que a criatura fosforescente dos meus dias... bem, mas isso é mesmo uma outra história, sem começo e sem fim. Enfim, embaladas po

I love Peanuts!

Controlar o apetite é uma forma de tortura. Estou tentando comer menos, mas meu estômago ronca e fica se mexendo. Neste momento, daria minha vida por um pacote de amendoim açucarado bem quentinho. Estou morta de preguiça, então estou usando da minha retórica (que é péssima) para convencer alguma das criaturas daqui de casa a ir comprar um para mim. * Troquei a ira pela ironia. Faz bem para a pele: o suor não surge pelo seu rosto, as veias não saltam na sua testa e seus olhos não ficam injetados.

A caminho de Lothlórien

Os dias agora passam mais conformados. O desespero pós-traumático que a mudança de ano sempre me traz já foi contornado: sinto-me melhor. Por esses dias, passeei, li, estudei... tudo do meu jeito, à la Srta Smilla. Não estou mais dedicando minhas tardes a dormir sobre minha bagunça, até mesmo porque arrumei meu quarto – se eu virar um Ungeziefer, como Gregor Samsa, vou precisar de um pouco mais de espaço... Estou tentando controlar a bílis, comer menos, beber mais água, fazer exercícios e manter meu espaço em ordem – o que é difícil porque sou explosiva, esfomeada, sedentária e desorganizada. Custa muito ser uma pessoa melhor, principalmente quando (como no meu caso) se é perfeccionista sem estar nem um pouco próximo da perfeição – isso deixa qualquer um paranóico, ou, pelo menos, deixou-me paranóica. * Estou, entretanto, sentindo uma alegria boba e inexplicável, como toda alegria deve ser. Talvez sejam os primeiros sinais de mudança, da estabilidade emocional que eu sempre busquei m

Gregor Samsa

Ano novo? Ano novo. Nunca acreditei em resoluções de ano novo, principalmente porque eu sempre fiz muitas e nunca cumpri nenhuma. Esse ano, entretanto, fiz diferente: peguei um papel e fiz uma lista com 10 itens que devem ser cumpridos durante o ano. Sempre tive uma tara incomum por listas, então talvez dê certo agora, aproveitando a mudança de calendário para implantar uma nova política de funcionamento no "Mundo da Luise", afinal esse é realmente o período mais conveniente para se efetuar mudanças, pois é quando se pode reformular toda a rotina, criar uma nova rotina. * Dentro de dois dias sai o resultado do ranqueamento. Friozinho.... * Correções em "calorias noturnas" (21/11/06) Descobri que o que realmente faz engordar são três coisa: Genética; Idade; Comida. Com a genética ou com a idade nada se pode fazer (como diz meine Mutter, ou se envelhece ou se morre). O jeito mesmo é arranjar um outro modo de controlar a aflição que não seja com comida – talvez um