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Mostrando postagens de fevereiro, 2007

Primeiras novas impressões

As aulas finalmente recomeçaram. Passado o primeiro impacto de abandono, resultante da debandada dos amigos por quatro diferentes habilitações e divergências de horários nas únicas matérias em comum, aos poucos se começa um novo processo de ambientação, para que os rostos ao redor se tornem conhecidos, não necessariamente amigos, porém ao menos familiares. Creio que a turma de alemão será mantida para as disciplinas da habilitação de Português, o que de certa forma contribui. Eu e E., pelo menos, já verificamos que temos todas as matérias em comum. Além disso, resta se acostumar com os novos professores, que foram impostos e distribuídos pelo mais incoerente acaso. Até agora só conheci dois, ou melhor, duas: M., de Língua Alemã I, que parece ser simpática e bem humorada; e F. de Literatura Portuguesa I, que ao que tudo indica tem laivos de histeria, é metódica e exigente, sem que isso a torne, entretanto, propriamente antipática. No primeiro semestre só tive uma professora. No segundo

Pequenas comoções (ou comoções refratárias)

L. (meu irmão) e eu compartilhamos do que eu carinhosamente nomeei, numa taxionomia do nosso sistema passional, de “ansiedade covarde”. Acontece que ele é apenas um menino; e eu não. Todo início de semestre ele, sábado à noite, começa a se sentir mal. Seu rostinho, entre o inocente e o cínico, se torna de uma brancura cadavérica, ele todo fica gelado e suas mãos ainda pequenas repousam no estômago, para tentar se proteger da ânsia de vômito que ele ingenuamente chama de “dor de barriga”. No dia seguinte à retomada às aulas, entretanto, L. já retorna ao seu estado normal, ou seja, um misto de humor pastelão e irritação arrogante, discutindo com minha mãe pelo direito de abandonar os deveres de casa para poder jogar “videogueime” (como diz Maurício de Souza). É certo que meus sintomas são muito amenos, o que talvez seja apenas o resultado de quase duas décadas de existência. De qualquer forma, os medos de hoje já fazem sentido: são racionalmente (ou pelo menos assim penso) explicáveis. A

As oito patas da aranha

Segundo a definição, a aranha pertence à classe dos artrópodes terrestres, assim como o escorpião, o carrapato e o ácaro, com oito patas e corpo dividido em cefalotórax e abdome. As aranhas, em particular, são aracnídeos cujo abdome tem glândulas que segregam seda, com que fazem as teias. (cf. verbetes “aracnídeo” e “aranha” do Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa) Hoje, quando fui inocentemente buscar o creme de pentear na janela do banheiro, avistei uma aranha de diferentes gradações de marrom na parte de cima do vitrô. Lentamente retirei o chinelo do pé direito e desferi um golpe que era para tê-la atingido. Porém como não atingiu ela pulou para cima de mim. Atendendo a meus gritos descontrolados, meu irmão (sete anos mais novo) invadiu o banheiro, que estava com a porta encostada, para ver que tipo de besta fera havia me atacado. Embora L. não seja um poço de coragem, começou a procurar a aranha, depois de verificarmos que ela não estava na minha roupa nem em meu cabelo. A

Do outro lado do muro

Os estados não se aplacam com a simples chegada de um inédito alvorecer, mas certamente ganham novos matizes, de relevância sutil porém significativa. Ontem foi um desses dias em que tudo ganha, de forma inesperada, senão propriamente uma graciosidade particular e inerente, pelo menos um colorido especial. Desisti de abandonar (pelo menos por hora) meu curso de alemão aos sábados, que tantas vezes me deixou tão iracunda. Ontem a aula foi muito boa para mim (senti uma sensível melhora de meu ouvido adormecido, que sempre se recusa a ouvir o que nunca foi ouvido antes, embora ele continue ignorando a existência do advérbio “auch” e confundindo “nicht” com “nie”. Mas isso um dia passa, assim espero. De qualquer forma fiquei muitíssimo feliz com meu singelo (e esse sim gracioso) progresso. * Fui com Rita, T. e sua prima, I., à Pinacoteca (P. e R. não puderam ir). Como sou uma pessoa muito antropofóbica gosto de passeios assim, resumido a poucas pessoas porém todas muito amigas, sem mult

[...]

O momento não é dos melhores. São várias as aflições e os medos e eu não sou exatamente uma pessoa que saiba lidar com incertezas sem passar por noites mal dormidas, intensas dores estomacais, cefaléias latentes e mal-humores incuráveis. A ansiedade é um mal terrível: consome dias, noites, vidas... Uma vez me disseram que ela não é necessariamente ruim, mas sim um modo muito intenso de encarar as pequenas e grandes intempéries diárias, uma forma mais intensa de viver a vida. Porém quando se enfrenta ansiedade e angústia, ao mesmo tempo, o desespero atinge proporções desmedidas, exageradas. Eu sinto-me como se estivesse com a cabeça submersa, e um detalhe importante é que não sei nadar e sou semi-claustrofóbica. Até que eu tento fugir de tudo isso, esquecer por um tempo, sorrir e fingir que tudo está (ou ficará) bem, mas quando se encara, na solidão de um dia de calor desértico, as paredes do próprio quarto às 3 horas da tarde, não há como escapar ileso dos pensamentos tumultuados e c

Pequena nota póstuma

Quando estávamos no início do Ensino Médio, Andressa e eu vivíamos em um planeta bizarro . Andávamos com T., que diferente de nós era toda menininha e num primeiro momento desviava toda atenção para si, com seus olhos verdes e seu cabelo louro. Nessa mesma época tentávamos ser populares, certamente porque queríamos compensar nosso terrible time de Ensino Fundamental. Tentávamos mesmo: conversávamos com as pessoas que alguns meses depois estaríamos odiando e passávamos o intervalos com os garotos populares, que ficavam os 20 minutos do "recreio" conosco por causa de T. (que não obstante o cabelo louro, liso e comprido, e os olhos esverdeados não era tão bonita assim). Nossas tentativas foram realmente inúteis: éramos, e ainda bem que ainda somos, muito diferentes dos membros funestos daquela dita "escola técnica". Tanto que quando estávamos sozinhas, longe de T., reclamávamos porque não tínhamos nenhuma idéia suficientemente boa para escrever uma livro que se torn