Donnerstag, Oktober 25, 2007

Eu no ENAPOL



Da esquerda para a direita, a segunda pessoa sou eu (felizmente minha cara não aparece!)

(Esta foto foi roubada do site do Departamento de Lingüística da USP)

Montag, Oktober 22, 2007

Contornos

“O senhor sabe, se desprocede: a ação escorregada e aflita, mas sem sustância narrável.” (Rosa, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas) Os contornos são ásperos, disse, sem saber que a aspereza da superfície era apenas uma camada tênue de defesa, contra a extrema sensibilidade interna. Ouvindo músicas em línguas que não conhecia, pois o incompreensível é mais bonito, dizia e sonhava coisas desconexas, que saltitavam multicoloridas diante de seus olhos imaginários, reticentes de todas as vontades. Por sua coluna sempre subiu um arrepio de surpresa, seu espanto ante a realidade. Nas prateleiras do quarto livros velhos e novos ganhavam poeira, igualmente. No chão do quarto, papéis, roupas, garrafas d’água, e tudo mais que daria muito trabalho arrumar. Na cama do quarto, um corpo de olhos presos no teto, com pensamentos longínquos e sentidos concretos. Dores e prazeres nunca são ilusão... “E assim imaginamos nós mesmos as perfeições que criam o nosso suplício” (Goethe, Johann Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther)

Donnerstag, Oktober 18, 2007

Um céu de chumbo

Por contrário que seja, o dia frio e cinza traz confortos de alma que outros dias não trazem: há o encolhimento do ser no ser, há o olhar pelas janelas, há árvores sóbrias e esperanças furtivas. Em dias como este, de hoje, sentir-se triste traz até felicidade e a sensação própera de sentir o ar frio entrando pelo rosto e tomando caminho dentro de nós. Dias como este sossegam desesperos, tornam as dores poéticas e a vida, apesar de absurdamente inútil e incompreensível, bela. Como diz Guimarães, na voz de Riobaldo, "viver é muito perigoso!"

Mittwoch, Oktober 10, 2007

There and back again (ou o dia em que Fiorin falou comigo - UH!)

Smilla está de volta, mas não porque merecesse estar de volta. Não: voltou para atender a um pedido especial (embora incompreensível) e que me comoveu imensamente, além de tocar meu ego fragilizado de nova escritora decadente. Foi um pedido de retorno, que de uma vez anterior eu protelei, mas que desta vez, vindo no meio de uma manhã, descompromissado e sincero, e vindo de quem veio (né, tia?) tornou-se irresistível, e eu tive que me render aos seus caprichos. Mas que desde já fique claro que o discurso será o mesmo, até porque a Smilla é "quase" a mesma - o "quase" se explica pelos últimos acontecimentos... E um Enapol depois... No dia 4 de outubro, uma quinta-feira quente, não obstante o meu frio interior, às duas horas da tarde, estava eu sentadinha no palco, diante de um anfiteatro lotado, com um microfone ao meu lado e com o Fiorin sentado bem na minha frente, olhando com sua cara de pós doutor aposentado para minha pobre cara de quem nem terminou o segundo ano da graduação. Foram exatos 12 minutos e 34 segundos que eu passei falando sem fazer a mínima idéia do que saia da minha boca, e secretamente me vangloriando pelas milhares de vezes que eu repetira minha apresentação no chuveiro, no ônibus, fazendo comida, limpando a casa, durante as aulas, deitada antes de dormir e até sonhando, até que tudo se tornasse satisfatoriamente macânico. É claro que nada disso foi suficiente para que eu não passasse o tempo todo tremendo, gaguejando, com dor de barriga e olhando para a mesa (afinal o Fiorin estavabem na minha frente, dividindo sua atenção entre o meu hand-out e o meu desespero, me olhando com uma expressão que na hora me pareceu um misto de compaixão e incredulidade por eu estar falando tanta idiotice). Quando eu terminei quis pular sobre a mesa e sair correndo e gritando "AAAAAAh!", como quem diz "não me perguntem nada pois não estou no meu juízo perfeito". Mas não. Tive que permanecer sentada, esperando que as quatro apresentações seguintes terminassem e dessem lugar a fatídiga sessão de perguntas, na qual o Fiorin disse que tinha algo para me dizer e eu, esboçando um leve sorriso de Monalisa em crise intestinal, internamente desejei que um de nós dois tivesse uma síncope e caísse duro antes que ele abrisse a boca. Naturalmente que meus desejos não foram realizados, mas ao contrário do que eu esperava ele foi muito gentil: disse que tratar de objetividade e subjetividade na obra do Caeiro é algo muito complexo e que talvez fosse melhor enfocar a figuratividade, e terminou dizendo "mas eu não sei, isso foi algo que me ocorreu agora" e para eu, que estava debrussada sobre o assunto e entendia mais de Caeiro do que ele (!!!!!!!!!etc etc !!!!!!!!!!) decidir o melhor a fazer. Saí daquele anfiteatro meio tonta, me lembrando dos dois meses que eu passei desesperada esperando esse momento, falando todos os dias para Érika que "o enapol está chegando. Buá" para ouví-la responder, compreensiva como sempre, para eu ficar calma e que ela estaria lá, e tendo crises de pânico em casa até que meus pais me considerassem doida. Enfim, saí de lá certa de que essa iniciação, como diria o graciosíssimo professor Mário Viaro, foi uma idéia de xarope de minha parte e que eu preciso acabar com ela antes que ela acabe comigo! [...] A Smilla de agora também é bem menos responsável que a de dois semestresa trás - só restou a neurose da responsabilidade. Ah, e agora também é uma pessoa tocada pela marca maior do capitalismo: as dívidas. Fiz meu primeiro crediário nas Casas Bahia...