A arte dos fracos

  • 109 dias para terminar o ano
Escrever é um vício de pessoas que não sabem se conter.
É como (e de novo é o Pessoa) pensar a realidade em vez de sentí-la, em vez de vivê-la de fato. É como olhar ao redor em um dia pardo, quando as nuvens se monstram absurdamente brancas e o céu contrariamente negro, quando tudo parece tirado de fotos amareladas, em um tempo tão forte e inexpressivo, e não se aguentar até que se transfira em palavras a situação inenarrável, transformando tudo, salpicando adjetivos em seqüência e mostrando o que é de uma forma que lhe é estranha.
É como quando se vê que se pode gostar de alguém, mas se sente que não basta só gostar, pois é preciso tapar cada vão da realidade, os espaços entre os olhares e o medo contido na respiração contida.
É como ter todos a volta e saber que só o que lhe cabe bem é a solidão, o tamanho dos próprios lapsos, o desespero ante os próprios braços, e a cor baça que preenche a lacuna dos dias.
Escrever é como o desespero de querer sentir as lagrimas quentes cortando a face, tingindo o sono, lavando a dor. É um vício para pessoas fracas.
É detestável ser fraco, mas os fracos sempre têm recaídas.
Fazer o quê?

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