Postagens

Mostrando postagens de 2006

Paciência 2: o retorno

Imagem
Hoje foi um dia torturante. Não sei se foi ressaca do primeiro embate, travado ontem, com a "Retórica da poesia", mas o marasmo, que foi o prato do dia, se arrastou com requintes de crueldade pelas 24 horas do presente dia. Depois de ter ido passear com Nina pela manhã (sol depois das 10h é prejudicial) e ter ido comprar ração para ela pelo segundo dia consecutivo (o sujeito da casa de rações é sério, interessante), tentei ler, tentei estudar, tentei auto-desintegração... porém só consegui mesmo dormir toda torta, de calça jeans, sobre minha bagunça. Acordei às 6 da tarde, zonza, transpirando feito um suíno e enxergando tudo verde. Para piorar a situação: eu estava toda feliz porque vou passar a festa de ano novo na casa dos meus adorados tios S. e L., até que descobri que o membro funesto da família também estará lá! * Nas minhas síndromes de avestruz gosto de enfiar minha cabeça no vácuo e esquecer do mundo. * Preciso decidir se vou fingir que estou morrendo para n

Raskólnikov

Adoro Dostoievski. Enquanto estava lendo “Noites branca” chorava só de olhar para o livro. Quando terminei, quis matar Nastenka. Acontece que tenho um problema com Dostoievski (e com literatura russa de um modo geral): os nomes – russos, por sinal. Não consigo guardá-los por mais de um parágrafo, tão cheios de K’s e terminados em “ov” que são. Quando li “Recordações da casa dos mortos”, umas 500 páginas de lembranças, ou seja, cheias de nomes russos, ficava voltando algumas páginas a todo momento, pois nunca sabia qual era o “ov”de que se estava falando. Agora estou lendo “Crime e castigo” (pela primeira vez na vida... sei que é vergonhoso). Levei uns oito capítulos para conceber que o personagem principal se chama Raskólnikov. Quanto aos outros membros da trama, só o contexto me faz identificá-los, porque os nomes russos...

Assuntos vários

Natal é época de bom senso: bom senso de saber que, se você come três pratos com carne de porco mais especialidades natalinas, bebe 2l de refrigerante e 5 taças de espanhola (com mais leite condensado do que vinho) e come inúmeras tacinhas de sobremesas hiper-calóricas, não adianta reclamar do tamanho do bumbum, nem da pança, afinal isso não é carnaval, seguido por um dia só para arrependimentos. * A festa na casa da minha madrinha foi bem legal, principalmente porque o membro funesto da família não estava presente. * Sobre os "últimos livros": -"Fábulas" (La Fontaine): mais ou menos - a intenção foi boa, mas o resultado é meio hipócrita :+ -"Assim falou Zaratustra" (Nietzsche): muito bom, com trechos que causam verdadeiros êxtases literários, mas, cá entre nós, Zaratustra é hipócrita e egocêntrico :] A propósito, a frase lá em cima, abaixo do título do blog, e deste livro. * Descobertas: descobri como se diz "Feliz Natal" em Alemão: &

Ah, se o meu Zeca falasse...

"Meu amor, minha flor, minha menina" (Zeca Baleiro) Meu amor, minha flor, minha menina Solidão não cura com aspirina Tanto que eu queria o teu amor Vem me trazer calor, fervor, fervura Me vestir do terno da ternura Sexo também é bom negócio O melhor da vida é isso e ócio Isso é ócio Minha cara, minha Carolina A saudade ainda vai bater no teto Até um canalha precisa de afeto Dor não cura com penicilina Meu amor minha flor minha menina Tanto que eu queria o teu amor Tanto amor em mim como um quebranto Tanto amor em mim, em ti nem tanto Minha cora minha coralina mais que um Goiás de amor carrego destino de violeiro cego Há mais solidão no aeroporto Que num quarto de hotel barato Antes o atrito que o contrato Telefone não basta ao desejo O que mais invejo é o que não vejo O céu é azul, o mar também Se bem que o mar às vezes muda, Não suporto livros de auto-ajuda Vem me ajudar, me dá seu bem Meu amor minha flor minha menina Tanto que eu queria o teu amor Tanto amor em mim co

Morte ao Noel

Hoje fui fazer as tais das "Compras de Natal" com mamãe (nem um pouco em cima da hora, a propósito). Odeio o Natal. É a única coisa capaz de lotar um shopping center em plena quarta-feira às 3 da tarde! Discuti com uma consumidora maluca que começou a me empurrar no meio da loja e mandei uma gerente fdp enfiar o pacote que ela demorou trocentos anos para pegar (para depois me atender com uma imensa cara de bosta) em algum lugar bem obscuro. * Odeio o Natal, as pessoas cínicas que fingem alegria natalina, as roupas natalinas, as comidas natalinas (exceto torrone, que eu aaaaamo), as reuniões natalinas, as multidões natalinas, as filas para tudo típicas do Natal. Enfim, odeio muito o tal do Natal.

Da inocência e seus delírios

A realidade dos inocentes é um mundo apartado de qualquer racionalização paupável, que possa ser exposta aos olhos curiosos e maculadores dos que já passaram, mesmo que há muito e assaz rapidamente, pela primavera em que o cheiro dourado e o colorido adocicado dos motivos sem razão se sobrepunham a tudo. Isso porque, quando me refiro a "Inocência", refiro-me ao estado de pureza dos sentidos: quando todos os sentimentos e sensações tidas como inferiores ou impuras estão presentes (afinal são inerentes), mas simplesmente são, ou como talvez dissesse Caeiro, quando eles fazem parte da natureza, irrefletidos como a natureza deve ser. Os medos, os desejos e os rancores são irracionais. Quando eu era pequena tinha muitos medos (de perder meus pais, do escuro, dos sonhos inexplicáveis, de não ter nada que me sustentasse no mundo e de comer peixe); tinha algumas paixões e infinitos rancores. Ainda tenho todos eles, porém de maneira muito diferente: descobri que todos eles têm uma

Ao fim, ao cabo: os saldos

Dois semestres se passaram e eu mal percebi; tudo foi muito rápido. Ainda me lembro com clareza, como se tivesse sido hoje de manhã, do dia em que pus os pés pela primeira vez na "Cidade Universitária": estava tão extasiada de felicidade que nem me importei com o aspecto decadente do prédio de Letras ("parece COHAB", disse meu pai). Achei tudo lindo: as árvores, o matagal descontrolado, o "super esquadrão de insetos gigantes", os seguranças que não sabiam dar informações... Meu receio de que minha aprovação fosse na verdade um equívoco do sistemas só passou quando, depois de muito tempo procurando o prédio de História, uma mulher de óculos mandou eu assinar um papel e me deu uma carteirinha provisória, escrito USP e com meu nome e minha foto. Então comecei a me preparar para as futuras desventuras estomacais e cefaléias (sou muito histérica). E tudo foi assim: IEC I: Fiz com a ilustríssima M. L., muito simpática e divertida, porém um tanto amnésica. Foi

Paciência

Segunda feira fui com a Dani até a USP resolver algumas pendências - entre elas renovar meus livros, que ao contrário do que eu disse já estavam atrasados. Fiz com que ela ficasse dando voltas eternas comigo em busca da criatura fosforescente, mas o máximo que conseguimos foi passar vergonha com M., que certamente achou que éramos duas malucas, e falar com um cara do Departamente de Teoria Literária e Literatura Comparada, que me disse que as notas de Z. ainda não tinham saído porque, segundo ele, "esse Z. é mais enrolado que rabo de porco". Paciência. * À noite sem ter o que fazer, decidi assistir ao filme que passou na Globo ("A liga extraordinária") porém me arrependi. O Dorian Gray era moreno! E morreu por causa de uma vampira! Como se pode viver num mundo em que se destroem obras primas para fazer filmes hollywoodianos de segunda mão com atores decadentes? Pobre Oscar Wilde. Paciência para mim e para ele.

Entre os mundos possíveis

Essa noite tive dois sonhos aterrorizantes, desses que nos fazem acordar no meio da madrugada e não nos deixam mais dormir, impotentes diante do que temos certeza que presenciamos. Um foi rapidamente superado, mas o outro ainda se mantem vivo na memória: continuo com a sensação ruim que o sonho causou, o mesmo estado formado por um misto de pânico, vergonha e subversão. Lembro-me de Z. falando que a realidade na verdade é subjetiva, o que cada um é capaz de vivenciar, dentro ou fora da cachola, e concluo que o sonho realmente foi real. Acho que vou precisar de terapia.

Questões semânticas

Um universo passional é composto por pequenos cosmos, paralelos e concêntricos ao mesmo tempo (se é que isso pode ser possível). Os gregos antigos já apontavam para a importância de se considerar o "pathos" do ouvinte tanto na elaboração de textos poéticos quanto na construção do discurso retórico. A semiótica define 'paixão' como "estado de insuficiência modal", que é gerado, obviamente, de acordo com o conjunto axiológico do sujeito, responsável pela atribuição de valores ao objeto. Como Martinho disse em suas maravilhosas aulas sobre retórica e discurso dialético, o "pathos" é considerado nos discursos retóricos para que se possa mover os afetos, as paixões das pobres criaturas inocentes que, sem saber que todo discurso é na verdade uma grande 'intenção', deixam-se ficar ouvindo os mais desmedidos absurdos. Eu, por exemplo, não sei por que permito que as pessoas me digam tantas asneiras, coloridas por uma retórica mal desenvolvida e

Srta. Nina

Hoje Dona Nina Menina completa 3 meses de idade e creio ser esse o motivo para estar particularmente insuportável. Ela late para mim, na maior cara de pau, acha que é a dona da casa: para se ter uma idéia, agora de manhã ela pulou na cara do Lucas e quase arrancou o nariz dele! Ela é muito graciosa, anda saltitando, se aconchega em meu corpo para poder dormir melhor, faz um escândalo de felicidade quando eu chego em casa, mas tem hora que ela me faz pensar que, se a garota do exorcista tivesse um cachorro, seria a Nina. Ela mexe muito intensamente com o "Páthos" de todo mundo aqui em casa: eu agora todo dia acordo às 6h da matina com minha mãe e meu pai jurando a cadela de morte, ambos muito iracundos após perceberem que ela estava dormindo no sofá depois de quase ter destruir a casa. À noite, porém, quando eles chegam do trabalho, esquecem de mim e do meu irmão e vão direto atrás do "bebê" deles. Sei que ela não sabe ler (só tem três meses, a graciosa criatura s

*

Hoje completa 4 meses que o Billy morreu. Ele tinha olhos marrons, alegres e indagadores. Na verdade ele era todo marrom. Sinto muita falta do Billy.

Vida nova, blogue novo

Imagem
Hoje me declaro oficialmente de férias (embora não tenha recebido nem metade das notas). É estranho pensar que não vou mais viajar todo dia até a USP, ter sonhos ruins com os professores nas vésperas de provas, cólicas e dores de cabeça durante as "confecções" dos trabalhos e atrasar os livros da biblioteca. Mas é sempre assim: todo início de férias penso que vou agarrar o mundo em três meses: ler, pular, saltitar, cantar, arrumar meu quarto, arrumar meu cabelo, virar budista, ler a "filosofia ocidental" (isso foi piada, porque eu nunca faria isso), viajar, respirar e nadar (em piscina, porque os peixem defecam no oceano)... só no final percebo que mal passei a vista pelo horizonte. Infelizmente, para usar um raciocínio do Gabriel (a quem atribuo seus direitos autorais) já entrei na idade do "não devo", ou pior ainda, já nasci nela! Mais uma coisa, ou melhor, duas, eu me prometo: vou me matar de estudar semiótica para quando eu for professora pós doutor

A outra

Nina está na fase mais complicada da infância canina: a fase em que os cães descobrem para que servem os dentes. Tudo se transformou para ela em um alvo em potencial: quando estamos andando, nossos calcanhares, quando estamos parados, os pés como um todo, quando estamos descalços, nossos chinelos, e quando não estamos por perto (ou quando ela se cansou um pouco de nossos pés) ela ataca absolutamente tudo que esteja ao seu alcance: revistas , jornais, sacolas, panos, chinelos, roupas, almofadas, minhas meias, as roupas do varau, as almofadas do sofá...(a lista realmente não tem fim) Como prezamos muito nossos sapatos e o cesto de roupas sujas, tivemos que impedí-la de subir para o andar dos quartos e do banheiro: construímos uma pequena barreira na escada, que aos poucos se transformou numa verdadeira muralha - primeiro foi um tronco decorativo, porém ela conseguiu transpô-lo. Depois foram um, dois, três, os quatro banquinhos que temos em casa e mais uma caixa de papelão. Todos fo

Calorias noturnas

Esta noite engordei 3 kg enquanto dormia (e só da cintura para baixo, como sempre). Arrumando-me para ir para a faculdade descobri que nenhuma calça queria entrar. Só depois de 1/2 hora de tentativas foi que consegui fazer com que uma superasse as coxas. Ainda precisei de mais 1/2 hora para subir o zíper e abotoá-la. No caminho para a USP, literalmente entalada dentro da calça, para tentar amenizar o impacto emocional que este episódio me causou, comi uma barra de chocolate branco, um pacote de amendoim açucarado e um outro de balas de goma. Ao contrário do que se pode imaginar isso não vai piorar o meu estado de semi-obesidade (rs) , afinal o ato de engordar decorre não da comida em si, mas sim de uma tensão originada de uma relação subjectal polêmica, entre o eu psicológico e o eu físico , sendo um anti-sujeito do outro. Tudo muito semiótico...

Malditas idéias fixas

O contato mantém uma proximidade distante. Os olhares, tímidos e insistentes, fogem e se encontram, receosos do que pode ser desvendado. Os sorrisos cúmplices denotam a consciência de algo que ainda não existe. * Daí surge uma idéia trêmula que pensa transformar-se em resolução...

Cifras temporais

O céu ainda mantém parte de sua escuridão noturna quando saio de casa às sextas-feiras. Ébria de sono (e somente de sono) vou cambaleando duvidosa até o ponto de ônibus, pois em tal momento não consigo me firmar física e cronologicamente - resido num anestesiado tempo psicológico. Durante o trajeto, travo um diálogo contínuo e desinteressante comigo mesma, reclamendo do trânsito que não colabora e dos desconhecidos que esbarram em minha pequena figura e não se voltam para pedir desculpas. Durante a aula enfrento uma árdua batalha com minha mente que quer se distanciar e com meus olhos, que tentam se mantêr cerrados. Mas insisto, digo "é aula de semiótica..." O retorno (depois da torta de frango da cantina) é sempre torturante: o sol, convicto, dificulta a locomoção e torna as distâncias ainda maiores. Os homens são mais afoitos, as mulheres mais arrogantes e as crianças insuportáveis. Quando finalmente vejo minha casa despontar no horizonte o corpo se comove e desaba. Mas

Esses corriqueiros olhos castanhos

O dia tornou-se cinza, mas já não sei mesmo se a falta de cor está em meus olhos baços ou no mundo. As folhas da árvore que vejo através de minha janela têm uma tonalidade marrom que desestimula uma observação mais demorada e os fios de energia, pretos como sempre, continuam parados no mesmo lugar. Como disse Baudelaire, "perdeu a primavera seu cheiro de flor".

O retorno de Odisseu

M. voltou para nos agraciar com seus olhares distantes e suas citações em grego - são frases inteiras decalcadas do original de algum filósofo dos anais do pensamento clássico, e tudo de memória, nos desenhos abstratos que constituem o alfabeto grego. Sou fã do Q.I de M. Quando eu crescer quero ter 1/3 da inteligência dele, o que já será algo absurdo. Acabaram-se as aulas de Elementos de Lingüística - resta apenas 1 semana de conturbações semânticas concomitantes antes do fatídico dia pragmático, no qual o uso da linguagem ou vai salvar a pátria ou vai ferrar tudo. Fica uma saldade catafórica de MFL. Além disso, ainda tenho que ler a maldita bíblia azul (também conhecida como "Gramática do Português oral culto falado no Brasil"), fazer a monografia do Z., estudar para a prova de Semiótica... Com tudo isso meu rim direito, juntamente com a enorme pedra que o habita, começa a latejar, mas como o desespero é um estado semiótico (assim como a dor e tudo o mais) procuro ameniza

O dia com José Luiz Fiorin

Quando eu era pequena achava que o domingo era um dia encantado, de tranqüilidade morna, paz descompromissada e fome suave de fim de tarde. Eu, até então filha única, dividia minhas tardes dominicais entre assistir ao "Rei leão" e fazer barulho para acordar meus pais que insistiam no cochilo pós-almoço. Hoje (com o perdão da obviedade) os tempos são outros. O peso da idade (infinitos 18 anos e quase 3 meses) apagou o brilho dourado do sétimo dia da semana: restou a preguiça e o pijama, que fica no corpo o dia inteiro. Ontem (12/11/2006) comprovou-se, mais uma vez, a quebra da antes sagrada tradição do "não-fazer" do domingo (conhecido também como dia do ócio): passei o dia com o ilustríssimo Prof. Dr. Salve, Salve José Luiz Fiorin (por intermédio de Introdução à Lingüística I e II) estudando a tal da Pragmática que, temo, manchará a minha tão graciosa média em lingüística. E antes que eu atirasse os livros pela janela, e depois me atirasse atrás deles, arrepend