Questões semânticas

Um universo passional é composto por pequenos cosmos, paralelos e concêntricos ao mesmo tempo (se é que isso pode ser possível). Os gregos antigos já apontavam para a importância de se considerar o "pathos" do ouvinte tanto na elaboração de textos poéticos quanto na construção do discurso retórico. A semiótica define 'paixão' como "estado de insuficiência modal", que é gerado, obviamente, de acordo com o conjunto axiológico do sujeito, responsável pela atribuição de valores ao objeto. Como Martinho disse em suas maravilhosas aulas sobre retórica e discurso dialético, o "pathos" é considerado nos discursos retóricos para que se possa mover os afetos, as paixões das pobres criaturas inocentes que, sem saber que todo discurso é na verdade uma grande 'intenção', deixam-se ficar ouvindo os mais desmedidos absurdos. Eu, por exemplo, não sei por que permito que as pessoas me digam tantas asneiras, coloridas por uma retórica mal desenvolvida e pela impressão alheia de que sou idiota, de que não tenho o poder de penetrar no interior mais profundo da estrutura caquética de seus discursos mal formados e idênticos aos que se ouvia na boca de meninos da 6a série no meu tempo. No fundo, sempre se cai de quatro sobre a semântica, a verdadeira mãe de tudo: se todos usassem os mesmos sentidos para as mesmas referências, não existiria esse gênero de problema, e a Luise não teria de se atrever a decodificar os oxímoros colegiais que tentam dirigir a ela. As pessoas não entendem que só Fernando Pessoa (salve, salve) sabe usar belamente os mais diversos antagonismos (dizer que não pensa enquanto está pensando, dizer que não ama quando já se está amando). O mundo não é adequado à Luise, mas como o Gil disse no episódio de ontem de CSI, se o mundo não se adequa a você, você se adequa ao mundo. Paciência.

Comentários

D ... disse…
nossa! donde vem tanta revolta?

andou conversando com aquela gente do alemão, não?

*

eu acho qeu CSI não se adequa ao mundo...
Anônimo disse…
Fiquei contente quando vi seu comentário. Gostaria de te encontrar e saber como andam as coisas. Me escreve, telefone. Venha tomar café de novo com a gente.

Postagens mais visitadas deste blog

Memórias de mim

A arte dos fracos

Lá e de volta outra (terceira) vez?