Memórias de mim

"Meu segredo - a explicação de mim - jazia lá. Levei-me por demais a sério, é claro. O que isso importa para alguém como eu, então ou agora? Mas todo homem é importante para si mesmo em um ou outro momento; meu problema tinha sido o de reduzir a importância, a espalhá-la numa camada tão delgada quanto pude por mais de meio século. Graças à minha política de sepultamento, eu tinha entrado em acordo com a vida, tinha feito um trabalhoso - trabalhoso era a palavra - arranjo com ela, sob a única condição de que não deveria haver exumação alguma. Era verdade o que eu às vezes dissera a mim mesmo, que minhas melhores energias tinham sido empregadas no ofício de agente funerário? Se era, o que isso importava? Teria eu me saído melhor, com o conhecimento que tinha agora? Duvido; conhecimento pode significar poder, mas não elasticidade, desembaraço ou adaptabilidade à vida, menos ainda o é a instintiva condescendência pela natureza humana;aquelas eram qualidades que em 1900 eu possuía em medida muito maior do que as possuo em 1952. Se a mansão Brandham tivesse sido o colégio Southdown Hill eu deveria ter sabido como lidar com isso. Eu entendia meus colegas, para mim eles não eram maiores que a vida. Eu não entendia o mundo da mansão Brandham; as pessoas lá eram muito maiores que a vida [...]
Se meu eu de doze anos, de quem eu gostava bastante, pensando nele, viesse me repreender: "Por que você cresceu feito um cão palerma, quando eu lhe dei um começo tão bom? Por que passou seu tempo em bibliotecas empoeiradas, catalogando os livros dos noutros em vez de escrever os seus próprios? [...] Eu teria uma resposta pronta [...]: "Esta Criatura de cinzas é o que você me tornou"."
Do livro " O mensageiro" ("The go-between"), de L. P. Hartley

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