Contornos

“O senhor sabe, se desprocede: a ação escorregada e aflita, mas sem sustância narrável.” (Rosa, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas) Os contornos são ásperos, disse, sem saber que a aspereza da superfície era apenas uma camada tênue de defesa, contra a extrema sensibilidade interna. Ouvindo músicas em línguas que não conhecia, pois o incompreensível é mais bonito, dizia e sonhava coisas desconexas, que saltitavam multicoloridas diante de seus olhos imaginários, reticentes de todas as vontades. Por sua coluna sempre subiu um arrepio de surpresa, seu espanto ante a realidade. Nas prateleiras do quarto livros velhos e novos ganhavam poeira, igualmente. No chão do quarto, papéis, roupas, garrafas d’água, e tudo mais que daria muito trabalho arrumar. Na cama do quarto, um corpo de olhos presos no teto, com pensamentos longínquos e sentidos concretos. Dores e prazeres nunca são ilusão... “E assim imaginamos nós mesmos as perfeições que criam o nosso suplício” (Goethe, Johann Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther)

Comentários

Thalita disse…
Sei lá, eu sou meio contra os conceitos e definições de arte, mas, para mim, isso é arte.
(e eu me refiro ao seu texto, não ao do Rosa ou do Goethe)

eu leio e penso assim: 'A L. é especial e ainda vai ganhar o mundo todo.' acho que é bem isso que eu penso.
D ... disse…
ai tia... eu te amo. é isso!
Anônimo disse…
Lulu e And, vocês simplismente são artistas na arte de manipular o verbal articulado aos sentidos. Magnificas!!!! E são minhas amiguinhas Usp!!!!

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