Sobre as sutilezas de um ser que dói
Parado num canto qualquer, seus pensamentos pedem o silêncio que se ouve apenas na solidão. Aliás, mesmo que só não esteja, sente gritante a linha dolorida que o divide do mundo, dos outro, do “não-eu”. Em outras palavras, acompanhado ou não, está sempre só. Muito aos poucos, num processo demasiado lento para ser compreensível, deu-se conta de si como ser absoluto, de dor inexplicável, de confusão permanente, de reflexos violentos para defender-se da possível violência e do inevitável desprezo alheio. Muito aos poucos percebeu que não havia ninguém ao seu lado, pois era intrinsecamente só. Percebeu que caminhar ao lado é só caminhar ao lado; que trocar palavras amistosas e gestos de carinho e confiança não é nada mais do que o medo do desamparo, medo de ser preterido e abandonado. Percebeu que nada daquilo realmente importava: só ele sentia a angústia permanente e torturante que se passava em algum canto dentro de si, e ninguém se importaria em ouvir, nem ele talvez achasse vontade em ...