Sobre as sutilezas de um ser que dói

Parado num canto qualquer, seus pensamentos pedem o silêncio que se ouve apenas na solidão. Aliás, mesmo que só não esteja, sente gritante a linha dolorida que o divide do mundo, dos outro, do “não-eu”. Em outras palavras, acompanhado ou não, está sempre só. Muito aos poucos, num processo demasiado lento para ser compreensível, deu-se conta de si como ser absoluto, de dor inexplicável, de confusão permanente, de reflexos violentos para defender-se da possível violência e do inevitável desprezo alheio. Muito aos poucos percebeu que não havia ninguém ao seu lado, pois era intrinsecamente só. Percebeu que caminhar ao lado é só caminhar ao lado; que trocar palavras amistosas e gestos de carinho e confiança não é nada mais do que o medo do desamparo, medo de ser preterido e abandonado. Percebeu que nada daquilo realmente importava: só ele sentia a angústia permanente e torturante que se passava em algum canto dentro de si, e ninguém se importaria em ouvir, nem ele talvez achasse vontade em si de falar. Subjetivamente, estava sempre só. Sua solidão fazia-o sentir o próprio ser como se o tivesse indefeso na palma da mão; fazia-o ver que toda vez que tentava defender esse ser materializado entre as frágeis mãos, maculava-o mais, torturava-o mais. Mas sentir o próprio ser tão concreto não é algo comum a todos: o ser que dói, oprime-se por saber-se latente, por ter a nítida percepção do plano intermédio entre o concreto e o abstrato – o eu. Esse ser tem matizes incongruentes: talvez seja, em seu conjunto, sublime, ou talvez realmente desprezível. De qualquer forma tenta, indefeso, defender-se, e volta para casa encolhido, tentando abafar o barulho externo e a indiferença dos olhares. Volta cantando baixinho “dann singe ich ein Lied für dich von 99 Luftballons auf ihren Weg zum Horizont...”

Comentários

D ... disse…
tvz exista alguém que deseja escutar...
Sinayoma disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Sinayoma disse…
Talvez esse ser tão íntimo de "si mesmo" ainda não tenha percebido que ele é íntimo dos outros, justamente por compartilhar das mesmas aflições daquele que parece tão íntimo de todos!

Ah! E eu acho que eu conheci essa música!;)

Tchüss
Thalita disse…
Eu adoro "te ler", só consegue ser inferior a "te ver", porque aí tbm...não há comparação!
^.^

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