Horas sem rumo

As horas já não progridem como deveriam progredir: elas passeiam, faceiras, sobre meu tempo, inconscientes, saltitantes, alteradas. Elas, as horas, vivem então uma vida própria, esquecem de que é preciso um eixo temporal para se enxergar a semântica das coisas, e me jogam por aí, sem saber ao certo para qual lado estou andando, sem saber mesmo se ando. Quando durmo ouço as palavras quentes que eu digo ao meu próprio ouvido, por dentro, como se não fosse eu quem as dissesse. Os valores são relacionais, mais as minhas palavras ditas com tanta fé ao meu próprio coração aflito não têm parâmetros: descubro, logo na primeira fase do sono, que minhas palavras se apóiam no vento e sou eu quem faz de mim uma pessoa enganada. As horas perdem-se e morrem no momento seguinte. Minhas horas passam sem que eu as veja. Quisera que caminhassem calmas como os elfos de cabelos claros. Minhas horas correm desvairadas, chocam-se com os muros de meu abrigo e caem tontas e desiludidas, sem mágoas porém com muitas dores. Minhas horas avançam, mas desconexas que são, não sei se gritam, fogem ou se calam. São minhas, as minhas horas...

Comentários

Anônimo disse…
Gostaria de fazer parte de suas horas fugidias...
D ... disse…
ah... tia, vc é tão poética que até inspira. adoro este teu lugar. posso te fazer companhia?

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