Horas duráveis
Um leve tremor lhe sobe pelas costas frias, e sobe até tomar os dois olhos negros como lugar de repouso. O olhar, comandado pelo medo autoritário, vai por caminhos oblíquos, ultrapassando os vãos negros dos mistérios indecifráveis. Esse olhar assim cada vez mais marcado pela tristeza linear e amarga, só pode pertencer a alguém demasiadamente apegado à própria dor e que seja, de uma certa forma inconfessável, orgulhoso de sua melancolia.
São olhos que se fecham ante a grandeza que oprime todo o ser, ante o cansaço que assola todo o corpo, ante o medo que consome toda a vida.
As mãos, igualmente trêmulas, repousam rápida e nervosamente sobre os olhos, como se assim fosse possível impedir a torrente estúpida de lágrimas aflitas.
O peito inócuo anseia por dar as respostas vazias que acolhe, mas algo impede que a voz tímida e áspera saia, ferindo confusamente o ar, contando o que é melhor ficar sem ser dito. Talvez seja medo, talvez orgulho. Talvez seja o gosto torturante que vê na tristeza o jeito mais sublime de repouso do sujeito. De qualquer forma, nada explica a desavença que aparta o ser do próprio eu.
Comentários
Me senti como num daqueles momentos que de tão engasgada, sem saber definir bem o que e o porquê, a gente se sente afogar por dentro,vendo minguar a já tão fragilizada força que ainda teima em subsistir e a gente submergida numa total impotência....
É, quantas vezes já não passei por isso e tantas mais ainda terei o encargo de suportar. Mas uma coisa eu sei sobre as artimanhas da natureza: o casulo precede a um lagarto que após desvencilhar-se da imobilidade e arrastar-se por muitos caminhos, finalmente se liberta num vôo de borboleta. E assim artisticamente seguimos vevendo.
=)