Pequena nota póstuma

Quando estávamos no início do Ensino Médio, Andressa e eu vivíamos em um planeta bizarro. Andávamos com T., que diferente de nós era toda menininha e num primeiro momento desviava toda atenção para si, com seus olhos verdes e seu cabelo louro. Nessa mesma época tentávamos ser populares, certamente porque queríamos compensar nosso terrible time de Ensino Fundamental. Tentávamos mesmo: conversávamos com as pessoas que alguns meses depois estaríamos odiando e passávamos o intervalos com os garotos populares, que ficavam os 20 minutos do "recreio" conosco por causa de T. (que não obstante o cabelo louro, liso e comprido, e os olhos esverdeados não era tão bonita assim). Nossas tentativas foram realmente inúteis: éramos, e ainda bem que ainda somos, muito diferentes dos membros funestos daquela dita "escola técnica". Tanto que quando estávamos sozinhas, longe de T., reclamávamos porque não tínhamos nenhuma idéia suficientemente boa para escrever uma livro que se tornasse um clássico da literatura universal! Andressa me perguntava "Sidney Sheldon ainda está vivo?" (na época ela adorava Sidney Sheldon) e "De onde é Milan Kundera?". Eu não respondia nenhuma de suas perguntas porque não conhecia as respostas, e acrescentava ainda: "Milan Kundera é homem ou mulher?" E suspirávamos ao ler "A insustentável leveza do ser". Ontem, passando os olhos pelo jornal, deparei-me com uma pequena nota de fim de página. Ela dizia: Morre o rei dos best sellers - Sidney Sheldon morre aos 89 anos com pneumonia. * Com o tempo começamos a sentir muito orgulho por não falarmos com os outros alunos da nossa turma, e fazíamos mesmo questão de não fazer nenhum contato. Nós nos bastávamos e eles eram todos superficiais e estúpidos. * Pois é, tia: Sidney Sheldon morreu terça-feira desta semana (sabia que ele já ganhou um Oscar por melhor roteiro?). Só falta descobrirmos o gênero de Milan Kundera, além de sua origem oculta.