Pequenas comoções (ou comoções refratárias)

L. (meu irmão) e eu compartilhamos do que eu carinhosamente nomeei, numa taxionomia do nosso sistema passional, de “ansiedade covarde”. Acontece que ele é apenas um menino; e eu não. Todo início de semestre ele, sábado à noite, começa a se sentir mal. Seu rostinho, entre o inocente e o cínico, se torna de uma brancura cadavérica, ele todo fica gelado e suas mãos ainda pequenas repousam no estômago, para tentar se proteger da ânsia de vômito que ele ingenuamente chama de “dor de barriga”. No dia seguinte à retomada às aulas, entretanto, L. já retorna ao seu estado normal, ou seja, um misto de humor pastelão e irritação arrogante, discutindo com minha mãe pelo direito de abandonar os deveres de casa para poder jogar “videogueime” (como diz Maurício de Souza). É certo que meus sintomas são muito amenos, o que talvez seja apenas o resultado de quase duas décadas de existência. De qualquer forma, os medos de hoje já fazem sentido: são racionalmente (ou pelo menos assim penso) explicáveis. As minhas aulas (e de todos os meus graciosos – de ambos os gêneros – leitores) recomeçam segunda-feira. Quando penso no assunto, primeiro fico radiante: estou farta de (não) estudar em casa e, além do mais, parece que o tal do “aquecimento global” decidiu fincar morada aqui na “Cisper Village”. Irei rever minha monografia que me rendeu um 9.5 em IEL e me encontrar propositalmente com a Criatura Fosforescente pelos corredores do prédio da Letras. Sinto saudade dos estudos desesperados e diários, das leituras que só sendo mesmo obrigatórias me fazem ler até ficar tonta, enjoada e enxergando tudo verde. Sinto falta da torta de frango da qual todos falam mal. Depois desse momento de “virtualização eufórica”, penso nas futuras aulas de alemão. Chego a achar que eu deveria ter escolhido italiano, porque é uma língua que eu provavelmente conseguiria aprender, além do fato de que eu iria estudar com R., ou então quem sabe uma língua mais incomum, como árabe ou armênio, pois como ninguém as fala por aqui, se eu falasse mal ninguém iria saber. Deveria ter escolhido russo, para ler Dostoievski no original. Mas escolhi alemão: acho a língua de uma sutil rudeza e personalidade que me fascinam, mas isso não quer dizer que eu vá conseguir me lembrar das palavras com sete ou mais letras. Esses seis primeiro meses de “apresentação” fizeram com que eu me apaixonasse pelo idioma, mas não sei dizer se o sentimento é, ou pelo menos será, recíproco. Mas tenho esperanças de que tudo dê certo, afinal este semestre, além das aulas da graduação, farei dois cursos de alemão, sendo que um já está em andamento. * Estou ansiosa, mas tudo dentro do normal. Segunda-feira retomo minhas viagens diárias até a Cidade Universitária, para rever os amigos e brincar de fingir ter a genialidade que as pessoas pensam ser inerente aos alunos da USP (idiotice). É aguardar os próximos capítulos da saga.

Comentários

Nana Carol disse…
hehe... to morrendo de saudade desses corredores atolados de gente maluka.....qt a habilitação...espero memso q o Italiano seja legal....foi o q escolhi!!!!
Nos vemos semana q vem!!!!!!
Beijinhus
Sinayoma disse…
Aeeeeeeeeeee
Minha companheira de alemão!
Finalmente nos falaremos!rs

Bom, sempre acham que vc é nerd porque é aluno da USP. Mas isso é só um erro de interpretação...

Eu fiquei pensando, durante a viagem, se eu realmente escolhi a língua certa ou se vou ter síncopes durante o resto da minha vida acadêmica!

Até mais tarde!

bjos
Sinayoma disse…
Ah!
Mas acho que escolhi direitinho!
D ... disse…
tia, vc tem de fazer alemão mesmo, pra me ensinar. lembra que eu odiava essa língua, achava-a extremamente... estranha e muito cheia de consoantes. agora, por culpa sua, adoro alemão e vc é a criatura responsável por me tornar fluente na língua. não desanime, pois vc tem uma importante missão. he he!

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