A vizinha maldita II: notícias do submundo

Hoje as obras da vizinha começaram às 7h17. Às 7h30 eu estava apertando a campainha da casa dela. Ao contrário do que escrevi no post passado, não fui de relógio em punho, nem a xinguei de “velha louca”. Mesmo assim, fiz questão de ir com meus cabelos desgrenhados e com meus olhos inchados, para que ela percebesse que aquilo realmente estava me incomodando e me enlouquecendo. Disse-lhe, a princípio muito educadamente, que compreendia que ela estivesse reformando a casa, porém que não havia condições de ela começar a quebrar tudo tão cedo. Disse-lhe que ontem o pedreiro começou a quebrar às 7h e parou por volta das 10h, ou seja, que se fosse usado um pouco de bom senso, ele poderia muito bem começar um pouco mais tarde, pelo menos às 8h, sem prejuízo de ninguém. Ela me respondeu que o barulho também a incomodava mas que ela não poderia fazer nada porque: - O horário que o “moço” começa a trabalhar é às 7h; - Às 7h já se pode fazer barulho (às 8h é em condomínio); - E o que eu posso fazer se preciso reformar a casa? Tive vontade de então mandá-la pegar a marreta e ... mas meu pai apareceu no portão. Então insisti que seria muito bom se ela usasse um pouco de bom senso, afinal a parede dela é grudada na minha e que parece que estão quebrando dentro da minha casa (para não dizer dentro da minha cabeça). Ela repetiu que não poderia fazer nada. Virei as costas e voltei para minha casa. * Por volta de 8h30, enquanto estava deitada na minha cama tentando controlar semioticamente minha torturante dor de cabeça (que não pode ser tratada com remédios visto que sou alérgica a todos os remédios decentes para dor), ouvi a vizinha, no portão de sua casa, conversando com sua inquilina, dona J. Ela estava perguntando para dona J. se o barulho a estava incomodando muito; disse assim: “acho que hoje eles terminam de quebrar, mas de qualquer forma eu falei para começarem a fazer barulho às 8h em vez de às 7h, para não incomodar os vizinhos. A moça do lado veio reclamar, mas o que eu posso fazer? Tem que quebrar!” E depois: “A senhora acorda cedo? Porque eu no máximo às 6h estou de pé.” É de se esperar que uma pessoa que acorda todo dia às 6 horas da matina só por acordar, achando que já é dia alto, não tenha um pingo de compaixão pelo sono alheio. Minha mãe, que havia ido ao médico hoje cedo e portanto não me viu indo falar com a vizinha, me disse quando tomou conhecimento do fato: “eu não acredito que você fez isso”. Eu não acredito que ELA me disse isso. Minha mãe é muito compreensiva com as outras pessoas e se esquece de ser um pouco mais condescendente comigo. Ela não compreende que estou passando por uma fase horrível da minha vida e que ser interrompida no ápice de um sono que se tornou (devido à mesma fase horrível) extremamente frágil para passar o dia inteiro com uma marreta chacoalhando dentro da minha cabeça não melhora nem um pouco minha situação. Meu pai, que insiste na política da boa educação para com todos em todas as situações, foi mais compassivo: pediu-me para ter calma, dizendo que “um dia vai ter que acabar”. Oh, vida! So cruel!